quarta-feira

Um leitor anônimo, um leitor que pensa


"A degradação cultural e moral está se manifestando de forma particularmente perversa no Brasil. Uma de suas conseqüências é a inversão de valores, a incapacidade de distinguir o certo do errado. Outras são: o nivelamento por baixo, o fascínio com a transgressão, o desprezo por qualquer forma mais elevada de arte e cultura e o desrespeito com as normas básicas daquilo que é chamado de civilização. O processo brasileiro de decomposição não tem parado de se ampliar, pois fermento e catalisadores vêm sendo jogados no caldeirão ininterruptamente, em adição aos ingredientes principais: a inoperância do judiciário, a corrupção do legislativo e, agora também, a anomia do executivo. A juventude que, no passado - com percepções políticas corretas ou incorretas, mas certamente com motivações idealistas - utilizou sua energia para lutar por um país melhor, está acéfala, muda e resignada (embevecida com as drogas?, ou com o último lançamento da moda?). A partir de 11 de maio, com o reforço dos incidentes de 12 de julho em S.Paulo, já temos a nossa Noite de Cristal, incitada por Marcola (como fez Goebbels na Alemanha). Temos também as nossas tropas de assalto – as SA, lideradas por Maranhão e Stedile (como fez Röhm). E também a crescente satanização da elite “branca”, vocalizada por políticos e intelectuais de esquerda (e também de direita, como Lembo), jogando a culpa da desigualdade e do crime “naqueles que há décadas espoliam o povo e lhe subtraem o direito a uma vida melhor”. No comando deste espetáculo grotesco, apesar de nunca ver ou saber o que se passa, o grande sábio de Garanhuns, aquele que descobriu o novo Brasil, inventou a energia hidroelétrica no Palácio da Alvorada, garantiu três refeições por dia para cada brasileiro e aprimorou o serviço de saúde no Brasil a ponto de deixá-lo à beira da perfeição. E fez, como ainda fará, tantas outras maravilhas, que em quatro novos anos – se os inimigos do povo não o impedirem – transformará o país no objeto do mais delirante sonho de grandeza, justiça social, desenvolvimento e respeitabilidade internacional.Para realizar este projeto grandioso, a eminência de Garanhuns contará, como já contou, com uma equipe composta pela mais fina nata do saber técnico e político: deputados classificados como quadrilheiros, ex-ministros afastados por improbidade administrativa, mensaleiros e oportunistas de plantão, compadres, companheiros, intelectuais da USP, advogados renomados por encontrar brechas nas leis, ex-terroristas absolvidos e indenizados por seus deslizes nos anos de chumbo e outros luminares especializados em garantir um influxo constante e crescente de receitas “não contabilizadas” para o partido do governo.O que esperar num ambiente desses? Para que encorajar os jovens a serem corretos e honestos, se por aqui prevalece o golpe e a esperteza. Para que estimular as pessoas ao hábito da leitura, se o exemplo que vem de cima é o do vitorioso semi-analfabeto e inculto. Para que insistir na importância da verdade, se os que comandam o país mentem despudoradamente e sistematicamente e todos fingem neles acreditar?Será que a epopéia irá terminar como o conto de Isaac Bashevis Singer, O Cavalheiro de Cracóvia (47 Contos, Cia. Das Letras): “Uma nova cidade surgiu. Os velhos morreram, os túmulos do cemitério se desmancharam e os monumentos aos poucos afundaram. Mas a história, assinada por testemunhas fidedignas, ainda pode ser lida no pergaminho da crônica”.

Nenhum comentário: