Já falei do meu ex-colega de Diretório Acadêmico (ambos não pertencemos mais a ele) Marcelo Seminaldo. É um dos poucos petistas com os quais tenho amizade. Num texto que escrevi no orkut, ele questiona o uso de certas expressões como: sandice e prosilitismo barato - na qualificação do pensamento que tenta culpar o 'lucro' pelo desabamento de uma parte das obras da Linha 4 do Metrô. Gilberto Dimenstein mandou prender a chuva. Eu quero que prendam o lucro. Discutisse, em suma, Turn Key, lucro, imprensa, proselitismo, política etc. Segue o seu texto. Depois volto com o meu.
Cara como vc está nervoso! Eu tomei o cuidado de separar alguns adjetivos utilizado por vc em seu ultimo post: "ridiculo"; "Proselitismo barato"; "sandice"... e por aí vai, cara sei que vc é um representante dos ensinamentos de Adam Smith, mas isso não inclui adjetivações, tipicas da "direita brucutu".Mas esquecçamos os adjetivos (que servem somente para criar uma cortina de fumaça), vc usa algumas vezes termos como "jornalismo sério", "gente séria", como se fosse o dono da verdade, aliás basta lembrar que vc é leitor e defensor da revista veja e rede globo (alias eu não vi nenhum post seu sobre o reporter Rodrigo Viana). Com relação ao Paulo Henrique Amorim, com seus erros e acertos, ele é talvez o único jornalista que procura fazer um contraponto midiatico.Com relação ao desmoronamento, vc argumentar que os engenheiros do metrô nunca "cavaram" um buraco, vc só pode estar de brincadeira, é sabido por todos que eles não "cavam" eles mandam, comandam e coordenam uma escavação.Por fim, vc faz uma salada entre desregulamentação com "socialismo ou morte" (aliás termo utilizado na capa da época, revista da rede globo), com o claro interesse de confundir quem lê. A desregulamentação do Estado, lato sensu, é a causa do acidente, fosse o Estado o construtor da obra, e o acidente não teria acontecido, pois, ele não visa obter lucro, e sim o bem estar da população. Por derradeiro, sugiro uma leitura rapida sobre os contratos "turn key".
Tenho para mim que a expressão ‘ridícula’ responde muito bem à ‘herança maldita’ (observação ao maldita). Proselitismo barato e sandice são termos tão usuais na política que não posso ver sua censura sem pensar que ela serve ao propósito de tentar convencer alguém (talvez a si mesmo) que estou nervoso, atribuindo um toque de desequilibro às minhas afirmações pretensamente desesperadas em defender algo ou alguém. Não estou nervoso. Aliás, uma das minhas qualidades (ou não) é ser entediantemente calmo. Creio que você pode lidar com alguns adjetivos, ainda mais quando não se referem a você. Não sou dono da verdade. Mas, sim, trato dos assuntos com convicção. Quando preciso, volto atrás. Certa feita, escrevi que considero a verdade, em certos campos do conhecimento, algo relativo. No campo das ciências humanas – que é o campo onde travamos nossas amistosas batalhas – a verdade está ligada sempre aos nossos valores, ao que Husserl denomina causalidade motivacional. Assim, quando disser que você está errado, tenha sempre isso em mente: minha afirmação é dada segundo a minha escala de valores e não segundo uma suposta verdade absoluta.
Voltando aos assuntos. Quando escrevi que os engenheiros do Metrô nunca cavaram um metro de túnel – e penso ter sido claro – não me referia à ação específica de cavar. Ocorre que os engenheiros do Metro nunca tocaram esse tipo de empreendimento, ou nos seus termos, nunca mandaram, comandaram ou coordenaram uma escavação. Os quadros do Metrô não estão qualificados para isso. Quanto à expressão “socialismo ou morte”, foi proferida por Chávez, conforme todos os canais de notícias do mundo. Trouxe a expressão para torná-la um emblema desses tempos em que o ódio ao lucro (capitalismo, que seja) tem sido alimentado por forças político-partidárias na América Latina. É isso - e não outra coisa - que explica o pensamento que culpa o lucro pelo desabamento das obras da Linha 4 do Metrô. Trata-se, no fundo, da escala de valores que expressa a causalidade motivacional a partir da qual essa gente (que expressa tal pensamento) extrai suas verdades. Isso quando não há má fé pura e simples. E para onde nos querem levar? Ah, para a sublime proteção do Estado, o mesmo que mata não sete, mas centenas de pessoas, todos os dias, em hospitais caóticos e estradas esburacadas por todo país. O petismo e seus enlatados estão tornando os brasileiros verdadeiros subordinados mentais do Estado. Não sei o que causou o desabamento. Sei é que foi, certamente, um erro de causalidade, princípio próprio das ciências positivas, para as quais determinados efeitos decorrem de determinados fatos, plenamente possíveis de serem sistematizados em leis, verificáveis experimentalmente. Culpar o lucro é uma sandice. Quanto à determinação das responsabilidades penso ter sido claro.
Fui ler mais sobre o Turn Key, conforme você recomendou, embora já tenha estudado esse tipo de contrato em DIP II, se não me engano. Não vejo maiores problemas em se contratar por meio de seus termos. Vejo, aliás, algumas boas vantagens, como a manutenção do risco do empreendimento nas mãos do contratado, maior garantia de que se pagará pelos preços avençados e de que se cumprirão os prazos. Ressalto que ele não dispensa a obrigatoriedade da contratada em seguir à risca as normas técnicas de segurança. Ademais, sobre o assunto, vale fazer uma pesquisa que, por pura falta de criatividade, não interessou a imprensa: como sãos feitos esses tipos de obras em outros países? Há estatísticas de acidentes em empreendimentos desse porte e magnitude? Como estão o Brasil e as empreiteiras brasileiras? Atribuir à desregulamentação a culpa do acidente equivale a desqualificar a iniciativa privada, reduzindo a atuação qualificada aos quadros do Estado. Tudo sob a alegação de que o Estado visa o bem estar da população.
Não faz tempo, o mesmo Estado - bom e protetor - levou à morte 154 passageiros em virtude de uma falha no sistema de segurança de vôo. Fosse controlado pela iniciativa privada, o caldo de glossolalias esquerdistas e baboseiras contra o capitalismo, a iniciativa privada e o mercado seria incrementado de forma enriquecedora. Trata-se, sim, de proselitismo barato, aliás, que cabe melhor na boca de comunistas como Plínio de Arruda Sampaio, HH e líderes do sindicato dos metroviários (um dos quais foi vice na chapa com Mercadante na disputa pelo governo do Estado de São Paulo).
Assuntos acidentais:
Rodrigo Viana: Ora, o que falar? Não dou crédito para latido de cachorro chutado. Sobretudo quando o cachorro foi envolvido em conversas comprometedoras com líderes de organizações criminosas. Veja que não defendo a Globo ou a Veja em si. Elas não são baluartes da decência. Oponho-me às tentativas de empulhação, de fazer da mídia o mal que se coloca no caminho do bem, que não por acaso surge sempre como uma força política ou partidária. Já disse que não gosto de Paulo Henrique Amorim, mas o quero fazendo aquilo que ele acha que deve fazer. O mesmo se diga em relação à Revista Carta Capital, Rede Record e Bandeirantes.
Túnel da Marta: Creio que o suposto tratamento diferenciado tenha se dado por duas razões: a) o túnel da avenida Rebouças já tinha sido inaugurado e b) a entrega da obra foi feita às vésperas da eleição na qual Marta concorria à reeleição. O contexto, portanto, favoreceu o entendimento segundo o qual o interesse eleitoral teria se sobreposto ao público. Esse contexto, nessa época do ano – início de mandatos e longe de eleições, tempos em que tucanos apóiam candidatos petistas – não favorece o mesmo discurso. A imprensa faz (e fez) o seu papel. Posso até entender o seu ressentimento, só não posso concordar com a sua escala de valores. É contra a suposta empulhação em relação à ex-prefeita Marta Suplicy, mas brada para que o mesmo seja feito em relação ao Serra? Isso me sugere um certo desapego a princípios, mas não quero entrar nessa perigosa seara.