segunda-feira

Reivindicar o posto de isento é mais um truque retórico do que qualquer outra coisa

Os momentos mais divertidos em certas discussões ocorrem quando alguém reivindica o posto de isento ou imparcial. Até onde se pode dizer que alguém é imparcial ou não? Até que ponto se pode dizer que alguém é isento ou não? A não-filiação a um partido? Bem, conheço partidários muito menos politizados do que muitos não-filiados por aí. A adesão a uma corrente ideológica? Liberais, socialistas, anarquistas e outros são todos parciais? Até que ponto alguém é liberal, socialista ou coluna do meio? Seriam isentos os apolíticos? Mas o que faz de alguém um ser apolítico? Um ser apolítico comenta política? Acho que não há respostas definitivas para essas perguntas - o que torna a reivindicação do posto um tanto quanto questionável -, mas ainda que houvesse, e que fosse possível qualificar alguém de plenamente isento (ou imparcial), seria essa condição suficiente para dar a alguém alguma vantagem intelectual, ou de ordem moral? Gozariam os assim qualificados de maior credibilidade? Teriam alguma condição superior que tornasse os seus argumentos mais sólidos? Há quem prefira a baboseira de um "isento" a lógica de um "parcial". Eu não. Acho que o entendimento de imparcialidade, nesses casos, um tanto quanto torto. Proclamar-se isento, aqui e alhures, não diz absolutamente nada. Geralmente, os isentos são tão ou mais envolvidos com a "causa" do que os que se filiam abertamente a elas. Mas, ainda que esteja errado, não é demais alertar que o isento não precisa reivindicar o posto para dizer o que acha que deve. Além de um exercício de auto-afirmação, que beira o fetiche, a insistência em se dizer "isento" ou "imparcial" mais parece retórica - quase um truque argumentativo - do que qualquer outra coisa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo Blog. Gostei muito.
Bjinhos