sexta-feira

A Lógica achada na Rua

Circula pela net um texto que supostamente foi escrito por Verissimo. Não sei se é ou não. Mas ele retrata o truque retórico de que se serve o petismo. O texto trata da pesquisa que concluiu que a elite brasileira é mais moderna, ética e tolerante que o "povo" (a pesquisa não usa o termo). Sabemos que a elite de que fala a pesquisa não é elite só pelo dinheiro que tem ou pelos produtos que consome, mas porque inserida nos círculos sociais de onde nascem as decisões políticas. É a tal elite “pensante”, que compra jornal, freqüenta festas badaladas e estudou em boas escolas. Verissimo prefere a lógica achada na rua. Explico. Em nenhum momento a pesquisa se presta às conclusões sacadas pelo petismo com glacê.
Luis Fernando Verissimo em
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Ao estabelecer que a elite é mais democrática, tolerante e ética, o estudo não conclui que: “se não tivéssemos um povo tão inferior, nossos índices sociais e de desenvolvimento seriam outros”,- mas JUSTAMENTE O INVERSO. Não fossem nossos índices sociais tão precários, nosso povo seria outro: mais tolerante, ético e democrático. Mas a lógica é aquela achada na rua, que se presta inventar – onde não existe – um ranço anti-popular, anti-povo.Claro que a pesquisa diz o óbvio: o estudo, em regra, torna a pessoa mais tolerante, mais comprometida com os meios do que com os fins. O mais interessante desta lógica perturbada é se valer de uma afirmação verdadeira para enfatizar uma falsa. Explico. No final do texto, o petismo infere das pesquisas o seguinte: “Esse povo, decididamente, não serve.”E serve? Serve um povo ignorante? Serve um povo pobre? Serve um povo no limite das suas necessidades? Serve um povo intolerante? Serve um povo que não têm freios morais nem para expressar sua ética em pesquisas de portão? Não serve. E também não serve o Estado de boas almas cheias de causas nobres para transformar o pobre ou dar estilo à pobreza. Salvar a humanidade, de certa forma, é um desrespeito à idiossincrasia. Mas a pesquisa faz outra aposta.A falsa impressão passada é a de que a ignorância e a truculência do povo estão na essência dele: imutável e irreversível - e que esta suposta essência está sujando a alva alma da elite. É a lógica achada na rua.

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