quarta-feira

Sobre a ditadura venezuelana e a defesa da ditadura venezuelana a partir de um discurso equivocado

Marcelo é um amigo petista. Sim, eu os tenho. Escrevi um pequeno texto sobre os 'superpoderes' que, hoje, foram atribuídos ao ditador Hugo Chávez. É um texto em defesa da democracia, das liberdades individuais. Marcelo respondeu com um texto que considero um equívoco. A seguir, o texto dele, em azul, e a minha resposta em preto.


Ravenna e sua luta pelos ideais da Revolução Francesa. Vivemos tempos diferentes...Imaginem, que esta mesma América Latina que agora se pinta de vermelho, há 20 anos era o quintal dos Norte Americanos, que pintavam e bordavam, financiando toda espécie de ditadorzinho de direita, Brasil, Argentina, Chile.., ai que saudade do Médice, Peron, e Pinochet (que Deus os tenham, pois como estamos numa comunidade repleta de cristãos fervorosos, é capaz de me recriminarem).Concluo dizendo que ditadura é ruim em qq lugar, e que fique claro que não estou afirmando que existe ditadura nos países da américa latina, mas o que me toca, e vejo com um ar de inusitariadade é ver meu Amigo Ravenna, bem como meu caro Luiz defendendo as "liberdades" ainda que formais, sendo que no país deles, é isso mesmo, no Brasil, até pouco tempo existia uma ditadura de DIREITA, alimentada por pessoas como o Sr. Bornhausen, alias vale lembrar as defesas apaixonadas que Ravenna fez nesta comunidade, defendendo este senhor, e tudo de mais atrasado que ele representa.Libertade, Igualdade e Fraternidade... tsc tsc tsc, Pachukanis se contorce em seu tumulo.

Voltei. Marcelo sabe o quanto o respeito. É senhor das suas idéias e isso vale muito hoje em dia. Certa vez, disse-lhe que a vida política implica fazer escolhas constantemente. Disse-lhe que esperava que ele continuasse a escolher o PT por suas convicções e não suas convicções pelo PT. Os amigos participantes da comunidade sabem o que isso significa, mas reitero, é a vacina a favor da independência intelectual. Por isso, não posso deixar de expressar o que me parece um discurso equivocado dele. Que fique claro: não tenho saudades da ditadura militar. Qualquer movimento - de direita ou esquerda - cuja finalidade seja tolher as liberdades individuais e solapar os valores democráticos terá na minha pessoa um opositor. Não tolero a falta de liberdade. Não tolero que me digam o que pensar ou dizer. Não tolero que decidam por mim. Não tolero que queiram me carregar pelos braços. Marcelo contenta-se com o fato de a América Latina estar pintada de vermelho, mas erra ao achar que eu estaria feliz se ela estivesse pintada de outra cor. Não a quero pintada de cor nenhuma. Quero-a livre. Não há uma ditadura em curso, mas a consolidação de uma. Hugo Chávez é um ditador, e é com esse dado do presente que trabalho. Marcelo parece não admitir que algumas pessoas ainda "briguem" por princípios. Não pretendo convencê-lo disso. Nunca defendi Bornhausen. Mas não seria um crime fazê-lo. Bornhausen é tanto um dado importante do processo histórico autoritário pelo qual o país passou, quanto da reabertura democrática. Creio, como bom cristão, que a civilização deve caminhar aprendendo com o passado, num processo de aperfeiçoamento político, moral e social constante. Assim, não posso compreender os insultos e injúrias que um sociólogo dispare contra o senador a partir de um passado superado. Bornhausen está longe de representar, hoje, o que a esquerda diz que ele já representou. Não custa lembrar, outros tantos representantes que deveriam estar, nessa ordem de idéias pertubadas, ao lado de Bornahusen estão hoje ao lado de Lula (Delfin Neto) e dando autógrafos a petistas (Maluf). Vivemos tempos diferentes? Sempre, ora. Mas isso não quer dizer a ausência de retrocesso. É contra ele que devemos nos insurgir. Atribuir as críticas que se faz - sobretudo as minhas, se for o caso - à ditadura venezuelana e à péssima escolha (escolha?) do petismo em se aliar a Chávez a uma suposta saudades de Médice, Perone e Pinochet é um discurso irresponsável. Temo estes tempos em que se troca facilmente justiça social (nunca vou entender esse 'social' depois de justiça, se é justo é justo e só) pelas liberdades, que alguns, como Marcelo, costumam chamar de meramente formais. Sim, até pouco tempo existia no Brasil uma ditadura de direita, que argumentou a sua necessidade pela perigo da ditadura comunista, que tantas vítimas espalhou pelo globo. Se o passado deve servir para explicar o presente, então o presente serve para explicar o passado, e o presente nos apresenta uma esquerda autoritária procurando consolidar ditaduras na América Latina.

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