sábado

Lula está com tudo. A oposição está com nada. E nós? Lascados, como sempre.


Falta capacidade analítica para a oposição
perceber que está criando o "Super-Lula"


Tempos atrás, escrevi um texto cujo título ficou assim: "É o golpe! É o golpe!”. Para ver, clique aqui. Tratava do perigo que representava o esmorecimento do Congresso Nacional. Um Poder Legislativo fraco, institucionalmente falido, é o primeiro passo para a implementação de um governo autoritário. Submeter o Poder Legislativo ao Executivo, no entanto, não é uma tarefa fácil porque o Brasil não é a Venezuela, no que agradeço a Deus. Possibilidade difícil, mas não descartável. Quando o Congresso Nacional passava por uma de suas piores crises institucionais, o PT não hesitou em defender o fim da imunidade parlamentar e uma reforma política advinda de uma constituinte. As oposições calaram-se. A defesa da democracia foi feita por alguns poucos jornalistas da imprensa "burguesa". Até mesmo algumas personalidades consideradas liberais flertaram com a tese lulo-petista. Imputar aos parlamentares todos os crimes passados e futuros, toda a corrupção, toda arte de mal fazer política, todo o fisiologismo, toda imoralidade, é uma estratégia do PT contra a qual a oposição deveria levantar-se. Deveria. Os recentes acontecimentos provam que isso não é uma realidade. Não só a oposição deixou de se levantar contra um projeto de poder que vem sendo executado meticulosamente pelo PT como tem dado mostras de que está pronta para colaborar. O episódio do “canetaço”, como vem sendo chamado o aumento dos salários dos congressistas, é mais um entre tantos outros que desmerecem o Congresso Nacional. Carente de tornar-se verdadeiramente representativo, no que podia ajudar o voto distrital misto, o Poder Legislativo investe contra o pouco de valor institucional que lhe resta. Como num bordel, onde ninguém é dono de ninguém - nem de si mesmo -, deputados de todas as bases - governistas, não-governistas e meio a meio - deram-se as mãos para a aprovação do escandaloso reajuste de 90,7% em seus próprios salários. Costurado pelo presidente da câmara, Aldo Rebelo (PCdoB), o acordo beneficia os congressistas, mas também, e principalmente, Lula. Ele é quem sai fortalecido. Ele é quem sai moralmente engrandecido. Diante do escárnio, do deboche, surge o Lula de um só compromisso ... ‘com o povo’. Com que moral esse Congresso cobrará de Lula austeridade. Com que moral se oporá aos seus delírios populistas? A oposição perdeu o norte. Perdeu a capacidade de análise. E, alguns de seus membros, também a vergonha na cara. Não é possível prever quantas investidas uma instituição suporta antes de sucumbir. Mas é perfeitamente possível vislumbrar quando a derrocada está perto. Ou a oposição sensibiliza-se com o espírito da época, que denuncia tempos escuros, ou estamos perdidos. Não há sociedade civil organizada que suporte sozinha a pressão avassaladora de um golpe, ainda mais quando ele se vale justamente dos meios democráticos para se impor. A ação do PPS (partido que teve um deputado entre os que aprovaram o reajuste) contra o aumento é uma esperança. Mas viver às preces para que a oposição exerça sua função não é bom sinal. Lula está com tudo. A oposição está com nada. E nós? Lascados, como sempre.

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