2007? Tudo na mesma 2.
Amigos (sim, eu os tenho) insistem em que escreva uma mensagem para o ano vindouro. Há aqueles que não insistem, mas discordam das minhas provisões. Poucos, muito poucos concordam comigo: o ano de 2007 não será muito diferente deste, se não for pior. Não sei porque, mas as pessoas apegam-se a essas coisas. O começo de um ano tem que representar uma renovação: votos renovados; esperanças renovadas; sorte renovada. Tudo o que de uma forma ou outra, entende-se, careceu no ano que se encerra. Recebi uma quantidade enorme de mensagens nessa linha. Talvez estejam certos aqueles que assim pensam. Mas não sou canalha, nem mesmo comigo. Não vou me fazer falsas promessas ou renovar coisa nenhuma como uma espécie de ‘mea culpa’ dos erros que se acumulam. E, antes que se chateiem, falo por mim. Amigos desejam-me um ótimo 2007. Eu desejo o mesmo a eles. Mas aí estamos em outro terreno: o da fé. Não posso me compelir a escrever sobre algo que não se conecta com o meu pensamento. Não posso falar de esperança quando o que me vai à cabeça é descrença. Não posso escrever que tudo será melhor quando creio exatamente no inverso. Ademais, não sou o que se pode chamar de escritor. Uma vez ou outra, chamo-me de escriba. Faltam-me talento, qualidade e conteúdo para o posto. Um pouco mais de domínio da gramática também. Falta-me, sobretudo, a capacidade de inspirar o leitor. O difícil não é oferecer falsas esperanças. Isso é mole. Não o faço por princípio. Falo de tocar o leitor com o que há em nós mesmos. Transformar em palavras nossas angústias, medos e aflições. Fazer de um arranjo de letras e pontuações uma verdadeira obra de arte. O escritor, o bom escritor, é um artista. Não sou artista. Tenho cá minhas angústias e paixões, meus medos e perturbações. Fazer deles algo atraente e com começo, meio e fim é que embola o jogo. Meus textos são sempre secos e sem graça. Há fugas por toda parte. O tema central escapa-me às vezes. Há pouco humor. Menos do que gostaria. Gosto de escrever sobre política, pensamento, linguagem, filosofia e direito. Ora, quem há de se sentir tocado por qualquer uma dessas coisas?
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