sábado

CADA VEZ MAIS BELÍNDIA!

Por Percival Puggina.

Foi o economista Edmar Bacha quem criou, em 1974, o termo Belíndia para designar os abismos que separam o Brasil próspero do Brasil miserável. Aquele seria como a Bélgica, este como a Índia. Passaram-se 32 anos. A Bélgica continua Bélgica, a Índia cresce a quase 10% ao ano e o Brasil continua patinando como correia frouxa que não sai do lugar. É verdade que desde o Plano Real contabilizam-se discretíssimos avanços nas condições de vida dos segmentos mais pobres. Essa ligeira expansão, no entanto, se dá por vias não sustentáveis. Ela depende de um crescente assistencialismo que jamais pode ser entendido como instrumento de ascensão social. Ao contrário, inoculando o vírus do paternalismo e da dependência, se converte em estagnação. É o neo-coronelismo, cuja eficácia eleitoral ficou escancarada no pleito de outubro. Como não poderia deixar de ser, dado que do couro saem as correias, o custo desse mecanismo foi transferido para a classe média, que convive com a incessante depressão de seus indicadores de renda e qualidade de vida. Em outras palavras, quem estava no meio não vai para a Bélgica, mas se muda para a Índia. Mesmo que restrito às vicissitudes da vida privada e ao mundo da economia, onde a quantidade de empregos e a qualidade dos salários dependem de inúmeros fatores internos e externos, tal fato, por si só, já seria revelador de uma situação social tão angustiante quanto constrangedora. Todavia, ele vem se instalando com crescente intensidade no próprio setor público, nos poderes de Estado, comandando de maneira escandalosa as torneiras do Erário. Com crescente freqüência, em algum lugar ou em alguma instância, as maiores remunerações pagas com dinheiro dos impostos garantem avanços para além da Bélgica, enquanto a imensa maioria dos servidores é jogada para a Índia dos vencimentos congelados. Criou-se uma ciranda em moto-contínuo, energizada por razões de direito: autonomia dos poderes para estabelecer seus aumentos, isonomia dos poderes para que os demais façam o mesmo, realinhamentos, direitos adquiridos, regalias das carreiras jurídicas, compensações e por aí afora. Graças a tal ciranda, detentores de poder de Estado e incontáveis categorias de servidores remuneram-se com valores que ultrapassam os cem mil euros anuais! Acontece que remunerações desse porte, mesmo na Bélgica, correspondem a uma elite econômica. E a distorção que representam ganha contornos exponenciais quando se atenta para o fato de que cem mil euros, no Brasil, correspondem a um poder de compra três vezes maior do que cem mil euros na Bélgica, onde tudo custa três vezes mais do que aqui. E agora vem o pior: a ciranda das autonomias e isonomias dos poderes e apadrinhados se move em absoluto desrespeito à vontade e à dignidade das condições de vida da única fonte legítima de todo poder: o povo, sem autonomia e sem isonomia, resignado e indefeso pagador de tais exorbitâncias.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá amigo, não desanime, que vem aí bons tempos.
Quando extamente ninguém sabe.
Mas ainda ontem acabou o século, o milênio, e dizem que estamos no fim dos tempos; como pode perceber tudo passa.
Também este engodo passará.
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