quarta-feira

No orkut 1

Kadu, citando Hayek:
.
"Apesar de suas boas intenções, a social-democracia moderada inglesa conduz ao mesmo desastre que o nazismo alemão – uma servidão moderna". (Hayek)
.
Victor Picanço, comentando a citação:
.
"Quanta asneira! Quer dizer que existe uma social-democracia radical? Servidão moderna? De quem? Do capital? Do trabalho? Da sociedade? Análise não só superficial como delinquente.”
.
Meu comentário:
.
Hayek pode ser acusado de tudo, menos de dizer asneiras. Não é fácil sintetizar teorias no orkut. Sempre faltarão dados, referências e conceitos importantes para dar o devido alcance das afirmações. Mas acho que posso elucidar para os colegas onde está o medo de Hayek. E o faço utilizando uma crítica terminológica. Hayek critica o termo “justiça social”, que está fortemente presente no discurso da social democracia. Já volto para a crítica. Antes, por que “justiça social”. Para o social democrata, as contradições da teoria marxista são válidas. O social democrata não nega a existência da luta de classes, da superestrutura etc. O social democrata, no entanto, despreza a revolução. Aceita o capitalismo e procura, por vias modernas, mitigar os seus – supostos – efeitos deletérios: desemprego, pobreza etc. É a justiça social. De volta a Hayek. O nobre pensador contesta a “justiça social”. Para ele, não passa de uma falsidade histórica. Era disso que, penso eu, falava Kadu. Ora, a justiça não pode ser limitada à noção do social. O que é justo é justo. A justiça que é social, por óbvio, só pode estar eliminando o justo. Ou a razão de ser do social que segue o termo justiça não teria a menor razão de ser.
.
A idéia de limitação da noção de justiça em favor de um grupo previamente escolhido está no seio das críticas políticas, filosóficas e econômicas de Hayek à social democracia. Vou exemplificar para quem não compreendeu a confusão acima: o substantivo que precede um adjetivo fica sempre limitado por este, como nas expressões verde e verde claro. O justo não pode ser apropriado a priori por uma expressão que limita o seu alcance, sob pena de se estar alijando um grupo do alcance mesmo do justo. No que diz respeito à social democracia, ela flerta com sistemas que não se opõem, dado o contexto apropriado, em deixar os “privilegiados” (assim definidos pela própria noção social democrata de “justiça social”) a mercê de políticas de combate às desigualdades sociais, que sempre se traduzem num aumento progressivo de impostos (que Hayek chama de confisco ou expropriação) ou na intervenção indevida nas relações contratuais. É o que se dá, por exemplo, nas relações de trabalho. Para Hayek , o social democrata elege como “injustiçado” - em razão de uma visão de justiça dada a priori – o trabalhador, pela mesma razão que defende a supremacia do trabalho sobre o capital. Dado o esquema acima, o social democrata cria, indevidamente, um sistema de proteção que se traduz, na visão do pensador, numa injusta transferência da propriedade de um indivíduo para o outro. De quebra, prejudica a liberdade de contratar e, assim, o próprio sistema regulador do mercado de trabalho.
.
A minha opinião
.
Concordo com Hayek. Mas acho que o nobre pensador pouco se importou em analisar aquilo que Raymond Aron não se cansou de mostrar: se a luta de classes é uma fantasia inexistente, por outro a organização da sociedade num regime democrático não implica a inexistência de luta pelo poder. E ele se dá de formas muito diferentes, embora sejam sempre positivas. Assim, o expropriado de Hayek terá sempre a oportunidade e a expectativa – politicamente falando – de reverter o presente a seu favor, alterando as forças políticas e de poder que conduziram à injustiça sentida por ele. O mesmo ocorre do outro lado da equação. Assim, a estabilidade política, com a alternância de poder, vai equilibrando as injustiças geradas pelo sistema, de modo que quando o sistema político pende demais para o capital, a tendência é o mesmo sistema parir um governo comprometido com a proteção social. Se, no entanto, temos um sistema que não remunera devidamente o capital, com uma política de proteção social muito custosa (expropriação exponencial), a tendência é o mesmo sistema parir um governo comprometido com a liberalização da economia e redução do peso do estado. Assim, a democracia é a válvula que equilibra social democracia e liberalismo. De certo, o socialismo é que não combina com a democracia. Na social democracia, embora sua configuração flerte com o injusto e, para mim, promova expropriação e intervenção em demasia, admite a convivência com o capitalismo, razão pela qual a estabilidade entre ambos é a regra.É isso aí. Fonte: eu mesmo.

Nenhum comentário: