quinta-feira

O vermelho do Mackenzie também assumiu um colorido esquerdista

Vejam a questão nº 60 do vestibular do Mackenzie:

• Desregulamentação do mercado nacional
• Ampla política de privatização das empresas estatais
• Manutenção de altas taxas de juros para atração do capitalestrangeiro
• Corte de gastos governamentais destinados a serviços e programassociais
• Flexibilização da legislação trabalhista

As medidas relacionadas acima se destacaram entre as mais importantes da política econômica posta em prática ao longo dos oitos anos do governo FHC (1995-2002). Há certo consenso segundo o qual elas permitem caracterizar essa política como sendo

a) nacional-desenvolvimentista.
b) comunista.
c) neoliberal.
d) keynesiana.
e) socialista.

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Voltei. Eis o Mackenzie conservador, neoliberal, "das elites" e antiprogressista que vive na boca da esquerdopatia mackenzista. Nada mais fajuto. Nada mais fora de tempo e lugar. A questão acima pertence ao último vestibular do Mackenzie. Além de endossar algumas inverdades, a questão não passa de um “ideologismo” rabugento. Vejamos. O que se pode entender por desregulamentação do mercado nacional? Uma das críticas mais contundentes dos liberais nos tempos FHC foi exatamente o exagerado emaranhado legislativo a que foi submetido o mercado pela sanha regulamentadora do governo FHC. Vá lá que tenha havido alguma política pró-livre mercado, mas isso nada tem a ver com “desregulamentação do mercado nacional”. Pelo contrário. O governo FHC foi responsável por uma re-regulamentação do mercado. A afirmação que faz a questão é inadmissível.
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E o termo “ampla”, na segunda afirmação? Também rende um bom debate. De unânime, nada tem. A tal “ampla política de privatização das empresas estatais” não conseguiu reduzir a participação do estado no mercado nem aos patamares dos estados sociais europeus. Continua elevado mesmo para os padrões mais progressistas do esquerdismo mundial.
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O mais interessante está nas duas últimas afirmações. A penúltima diz: “Corte de gastos governamentais destinados a serviços e programas sociais”. Nada mais fajuto. O primeiro mandato de FHC é caracterizado por crescimento dos gastos sociais federais, como qualquer pesquisa minimamente comprometida com a verdade é capaz de apontar. O segundo mandato, se não significou crescimento dos gastos sociais, esteve longe do tal “corte de gastos governamentais destinados a serviços e programas sociais”. Um trabalho realizado por Jorge Abrahão de Castro, do IPEA, sobre a evolução do gasto social federal de 1995 a 2001 (pesquisem) é suficiente para colocar por terra tamanha bobagem, largamente difundida pela esquerda radical, tanto na era FHC quanto na era Lula. O Mackenzie tomar o radicalismo insano dessa gente como verdade incontestável só pode ser resultado de um ideologismo rabugento, ainda que inconsciente.
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A última afirmação é cômica. “Flexibilização da legislação trabalhista”? Onde? Quando? Nem mesmo a discussão sobre o assunto prospera no Brasil. A tal flexibilização da legislação trabalhista está longe de ter se tornado uma prática ao longo dos oitos anos do governo FHC. Trata-se de uma afirmação irresponsável.
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O vestibular do Mackenzie queria que o candidato cravasse um “C” na questão. Ao fazer isso, o aluno é obrigado a endossar inverdades e coadunar com puro – e descabido – ideologismo do vestibular do Mackenzie. Eu, se candidato fosse, entraria com um recurso contra a questão. Eu quereria anulação. As premissas falsas tornam qualquer alternativa incorreta. Comprometem a questão como um todo.
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Quem diria? A despeito do que dizem alguns, o vermelho do Mackenzie também assumiu um colorido esquerdista.